quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Livro mostra como questões financeiras ajudam ou atrapalham o casamento

Do O Dia Online - 07/10/2010

POR LUCIENE BRAGA

Rio - 'Quando a gente ama não pensa em dinheiro, só se quer amar’. O sucesso musical de Tim Maia abre o livro ‘Até que o Dinheiro nos Separe’, da psicóloga e terapeuta familiar e de casais da PUC-SP, Cleide Guimarães, que aborda o papel do dinheiro nos relacionamentos afetivos. Ela escreve a partir de histórias de consultório e pesquisas na universidade, sob a ótica da psicologia econômica. Segundo a autora, a parte financeira é a que coloca à prova anos de convivência.
“O segredo para ser um casal feliz do ponto de vista do dinheiro é ser aberto. É um falar para o outro como trata do assunto, como gasta, como investe. Se nada foi falado ou combinado antes, problemas à vista”, ela resume, para mostrar que a cultura que separa dinheiro e amor é avassaladora.

BOM PARA CORAÇÃO E BOLSO

“Afinal, ninguém quer que o outro se sinta menor porque ganha menos ou que decida tudo porque ganha mais. Para que casamento, namoro, ‘rolo’ ou paquera deem certo, é preciso que ambos se sintam bem. Seja no coração, seja no bolso”, diz Cleide.

O livro traz depoimentos de quatro jovens recém-casados que se submetem à terapia. Um é formado por dois bem-sucedidos profissionais marcados pela diferença de status financeiro: ela ganha três vezes mais. O segundo par se relaciona desde a adolescência e é formado por um homem que ganha quatro vezes mais que a mulher. O terceiro casal tem a mesma renda, mas uma diferença gritante na forma de usar o dinheiro. O quarto é anticonvencional: ele saiu do emprego para estudar e pesquisar, enquanto ela passou a pagar as contas. Mas eles passaram por perda de poder de compra, o que abalou a relação.

Planejamento e diálogo

A dentista Renata Moraes, 33 anos, e o médico Rodrigo Rocco, 34, estão juntos há quatro anos, dois deles casados. Ela espera um bebê e juntos compraram um apartamento. Para isso, deixaram de lado gastos com viagens caras: preferem destinos próximos, como Buenos Aires. A prioridade é o imóvel.

Servidor público, ele ganha mais e cobre a maior parte das despesas fixas. E é mais controlado. “Eu sou mais racional, enquanto ela é mais emotiva”, define ele. “Conversamos muito, desde antes do casamento. Temos metas e nos planejamos. Mas eu sou mais chegada a sair, jantar fora e gastar”, admite Renata.
Sem crise durante o namoro

Os estudantes Raphael Gonçalves, 19 anos, e Rachel Nicolay, 21, namoram há quatro anos. “Ela compra muita roupa”, critica ele, que faz curso na Bolsa de Valores para aprender a aplicar dinheiro. “Mas ele gastou uma fortuna comprando um videogame”, entrega Rachel. “Mas eu uso”, Raphael justifica.

Morando em casas separadas, a diferença ainda não é problema. Os dois jovens conversam sobre dinheiro e opinam até nas escolhas profissionais. Também formaram um fundo por meses para a primeira viagem sozinhos, para Fortaleza (CE). Gostaram, não voltaram endividados e planejam novo tour.

Estresse financeiro

Na vida a dois, há muitos mitos, um deles é o do homem provedor. “Será que com toda a fortuna que o príncipe possivelmente ofereceu à Branca de Neve, sua vida foi feliz?”, questiona a autora do livro ‘Até que o Dinheiro nos Separe’, Cleide Guimarães. “Afinal, ela já se casou em posição desfavorável quanto ao poder! Será que deveriam ter feito pacto pré-nupcial? É interessante notar que há mais contos infantis com homens que se casam com mulheres pobres do que com mulheres ricas que se casam com homens pobres, como Alladin”, observa.

Para Cleide, quando os casais chegam ao estresse financeiro, isso seria somente a ponta do iceberg de uma série de conflitos que encontram no dinheiro a explicação mais concreta. A origem, por vezes, pode estar no passado familiar, e a terapia seria um recurso eficiente para melhorar as coisas.

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